A arte de conversar com as crianças sobre suas leituras

Post Author

Ler em voz alta é um dos melhores presentes que podem ser dados, uma simples atividade que pode ter forte influência na futura vida leitora das crianças. Às vezes um ato pequeno e fácil é muito mais efetivo que muitas atividades sofisticadas. Nessa linha, sugerimos algumas ideias para conversar com as crianças sobre suas leituras.

É frequente que, depois de ter conseguido terminar a leitura de um livro numa leitura compartilhada ou silenciosa, damos por realizado o objetivo da leitura. No entanto, o ato socializador daquilo que lemos é tão importante quanto a própria leitura. Ler um livro costuma ser um convite à conversa e tanto os pais como os mediadores gostam de ter boas conversas com as crianças. Conversar com as crianças sobre as suas leituras é como acender uma lanterna no fundo de uma gruta: “Você viu isso?… Olha para lá… vamos ver o que temos aqui…”

Bebe leitura Ana G


Uma boa conversa começa com uma boa pergunta

Uma boa pergunta conduz a algum lugar no pensamento. Muitas vezes, as crianças estão mais interessadas em dar uma resposta rápida do que em pensar na pergunta. Desse modo, perguntas do tipo: O que chamou a sua atenção? O que você pensa disto? São caminhos que convidam à exploração mais do que a uma resposta.

Procure pontos de interesse das crianças
Muitos livros tratam de mais de um tema, certamente você encontrará algum assunto pessoal para compartilhar com as crianças.

Dirija as perguntas para dar sentido à história
Muitas crianças precisam entender a história antes de entender o seu significado. Algumas perguntas podem ser direcionadas para revisar os aspectos principais da trama. As crianças que compreendem melhor as histórias se transformam em leitores com mais confiança, e essa segurança vai proporcionar-lhes maior prazer em suas futuras leituras.

Bebe leitura Ana G

Reformule perguntas
Se você percebe que as crianças não respondem por que não entenderam a pergunta, dê uma ajuda. É possível usar diferentes palavras ou ajudar com adjetivos. Como você acha que é Matilda? É valente, independente, curiosa, tímida, generosa? Uma parte importante da conversa vai ao sentido de contribuir com o desenvolvimento do uso das palavras para se expressar melhor e facilita que as crianças tenham um maior domínio da língua.

Faça conexões pessoais com a história
O que você teria feito se o mesmo que aconteceu com a personagem principal tivesse acontecido com você?
Tais conexões ajudam a relacionar as histórias com as suas vidas. Conversar é menos falar sobre as figuras ou o conteúdo do livro que sobre seu significado.

Tenha paciência
Não se faz um bom “conversador” da noite para o dia. É preciso ter paciência para deixar que as crianças encontrem a sua maneira de se expressar, sem as afogar com comentários e perguntas. Se você fizer muitas intervenções, ao final você será o único a fazer comentários sobre os livros.

Escute
Dê tempo para as crianças responderem. Se você faz uma pergunta, dê tempo para que eles pensem e respondam. Pergunte, faça um pequeno comentário e espere. Mostre que você sabe escutar e que eles são escutados. Isso é muito importante para se ter uma boa conversa.

Todas as respostas são boas
Conversar é contrastar diferentes pontos de vista, escutar opiniões diversas, e trocar diferenças. Nesse sentido, todas as respostas são boas e devem ser levadas em conta. Lembre que uma boa conversa não trata das respostas, mas das perguntas.

Bebe leitura Ana G

Dê suas próprias opiniões
Uma conversa não é tanto falar sobre o que você sabe do livro, mas sobre o que pensa sobre ele. Concentre seus comentários nesse aspecto, para ter mais profundidade e para que as crianças se situem num mesmo nível.

Direcione a conversa
Não se satisfaça com respostas obvias: as crianças têm o habito escolar de responder o mais rápido possível. Uma conversa é um passeio, não uma corrida. Ajude-as a desenvolver um espírito original e critico.

Não saia do assunto
Algumas vezes, as conversas derivam para temas que não tem relação com o livro. Trate de controlar isso com algumas perguntas que os tragam de volta para o assunto.

Uma conversa não tem fim
Não procure chegar a nenhum ponto concreto, nada além do falar sobre uma história. Termine quando ambos quiserem, na hora do jantar, ou quando o tema se esgotar.1Texto publicado no blog da autora.

Tradução Dolores Prades


Imagem: Ilustração de Helen Oxenbury, para Um bebê vem aí, de John Burningham, publicado pela Editora Paz e Terra, São Paulo, 2010.


Nota

Compartilhe

Post Author

Autor

  • Ana Garralón

    Ana Garralón trabalha com livros infantis desde finais dos anos 80. Colaborou como leitora crítica para muitas editoras, realizou oficinas sobre formação e incentivo à leitura e livros informativos em importantes instituições. Escreve regularmente na imprensa. Publicou Historia portátil de la literatura infantil, a antologia de poesia Si ves un monte de espumas e 150 libros infantiles para leer y releer (CEGAL, Club Kirico, 2012 e mais recentemente Ler e saber: os livros informativos para crianças (Pulo do Gato, 2015). É membro da Rece de Apoio Emília. É autora do blog http://anatarambana.blogspot.com.br/.

Artigos Relacionados

Questionário Emília

Clubes de Leitura, espaços para compartilhar…

Mobilização para a democratização da leitura literária

,

11 respostas

  1. Quando a criança tem a oportunidade de ser cercada por contos, por cantigas, por sons agradáveis como a voz suave a sussurrar uma história, ou interpretando personagens, ela tende a se desenvolver mais rápido, tanto em sua comunicação corporal, como na sua comunicação verbal.

  2. É importante entender as diversas estratégias para ler . Existe a leitura por deleite, apenas pelo prazer de ler e a leitura com intenção que a criança aprenda sobre algo, interpretar as imagens, entender o enredo, dentre várias outras. Para isso, vale dizer que é presido ser paciente, sensível, e estar preparado para fazer as devidas intervenções.

  3. Gosto de ler para a criança, depois dou liberdade para dizer sobre o que entendeu, quem eram os personagens, autores.. Gosto de deixá-las bem a vontade e digo para usar toda sua criatividade e peço autorização para fazer um vídeo. Gosto muito do resultado. observo sempre a capacidade de atenção, oralidade e sua imaginação. Experiência realizada com alunos de apoio (aula particular).

  4. Gosto de deixar que as crianças observem com calma todos os livros dispostos na caixa, e então fazer sua escolha, seja pelas ilustrações ou por algum livro que já conheçam a história, após a leitura peço que quem quiser poderá contar a história aos demais do seu jeito. É muito enriquecedor.

  5. Quando termino de ler livros para as crianças com faixas etárias entre 3 e 4 anos. Retorno página por página e quem fala o que aconteceu em cada página do livro em relação ás personagens, a narrativa, ou mesmo as imagens são as crianças. E muitas vezes, peço para escolherem uma página, ou duas do livro e elas fazem a representação teatral das mesmas. É bem divertido! Elas adoram! Você está certa Ana Garralón ao falar que devemos conversar á respeito do que foi lido, com boas perguntas, especialmente sobre o que mais interessaram e encantaram as crianças.

  6. A leitura é fundamental para o desenvolvimento, na Unidade onde trabalho sexta- feira elas levavam livro para casa e na segunda – feira liam para os amigos em sala. E gosto de fazer encenação dos livros. sorteava os personagens com eles e quem não era sorteado ficava de platéia. Eles adoram.

  7. É muito importante que crianças desde a tenra idade recebam leituras de livros,com certeza crescerão valorizando a leitura de livros e sendo grandes leitores.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *