Gabriel Pacheco

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Gabriel Pacheco (México, 1973) é formado em cenografia pelo Instituto Nacional de Belas Artes do México e começou a trabalhar como ilustrador em 1998. Desde 2005, suas ilustrações lhe abriram portas nas editoras espanholas, italianas e coreanas. Seus livros foram premiados em diversos concursos internacionais promovidos na Espanha, no Japão e no México; recebeu a menção honrosa na categoria News Horizons, da Feira Internacional do Livro de Bolonha (2009), o primeiro lugar no X Concurso Città de Chioggia, o prêmio CJPicture Book 2010, na categoria ilustração; foi selecionado nas feiras de Bolonha, Ilustrarte, de Portugal e Sármede. Seus livros estão na lista “White Ravens”, da Biblioteca de Munich, os prêmios “Quórum”, do México e no catálogo 50 livros/50 capas do American Institute of Graphic Arts, além de estar presente na seleção do Banco do Livro da Venezuela.

Podemos considerá-lo como um dos grandes ilustradores do cenário internacional e com grande projeção futura. No Brasil, tem publicados A grande viagem (OQO), O pintinho da Avelazeira (Callis) e A bruxa e o espantalho (Jujuba).

Gabriel Pacheco esteve presente no Conversas ao Pé da Página IV – 2014 (realizado pelo Sesc-SP, com curadoria da Revista Emília e da Cor da Letra, com Dolores Prades e Patrícia Pereira Leite, respectivamente).

Javier Sobrino O que o levou a escolher a ilustração como profissão?

Gabriel Pacheco – Primeiro foi o acaso, depois veio o desejo e agora é visceral. Comecei ajudando minha irmã a colorir seus desenhos ou copiando tipografias em um acetato para alguma capa. Trabalhava como assistente de cenografia e amava teatro. As dificuldades econômicas me fizeram entrar para a televisão, mas foi uma péssima decisão, o que me frustrou profundamente; justo nesse momento, minha irmã me propôs ajudá-la a fazer alguns desenhos e decidi deixar meu trabalho como cenógrafo.
Um desenho se seguiu a outro, um dia se seguiu a outro; à noite, minha imã me emprestava seu computador (de 25 MHz) enquanto experimentava com desenhos vetoriais, até que um dia me convidou para ilustrar um conto, e, desde então uma parte importante da minha vida é ilustrar. A maioria do meu trabalho é digital, mas ultimamente, estou experimentando também outros suportes e materiais.

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JS – Em que medida seus estudos de artes Cênicas influenciaram nas imagens de seus livros?

GP – Creio que influenciam como minhas lembranças e minha memória visual. Assim, de alguma maneira, esse passado voltou como um traço que me delineia, abastecendo-me de imagens e ideias. A princípio, creio que esta bagagem aparecia muito esporadicamente, até que foi tomando forma e, atualmente, se tornou parte do meu discurso, uma forma de assumir a origem que constrói meu olhar. E não somente são imagens, como também as formas conceituais são uma maneira de “montar” uma imagem, de conceituá-la. E, agora, isso já faz parte do lugar de onde olho o mundo.

JS De onde vêm os personagens de sua obra, já que alguns se repetem em alguns livros?

GP – Há insistências que vêm do fascínio ou do que me inquieta, recordações que continuam me assombrando… creio que, por isso, a insistência, que funciona como algo que chama a atenção de alguém e existe algo desse alguém que não se consegue decifrar, mas que não se pode deixar de contemplá-lo, o que seria o precipício do desconhecimento.

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Então, essa figura se envolve de um mistério que fascina; esse desconhecimento abre um espaço imaginativo enorme, outorgando-lhe permanência entre as recordações e se torna quase uma obsessão, os chapéus, o gesto, as asas, os pés descalços, é como um universo povoado unicamente por uma só espécie. Sua origem é muito diversa, talvez provenha de alguma fotografia, de um filme, das fotos de casa ou das pessoas que andam na rua; aí está, provavelmente, a recorrência destes personagens, mas não sei. É difícil precisar um lugar, ainda que sempre use como recurso fechar os olhos e poder encontrá-los.

JS As roupas de alguns personagens são comuns em vários livros: camisetas listradas e calças com suspensório. Por quê?

GP – Essas roupas têm algo de lúdico, amo esse ar de “outro tempo” ou de “outro mundo” e isso me fascina; as listras me remetem à infância, mas não porque me vestiram assim, mas porque me lembro de uma personagem que aparecia na televisão que se chamava Cachirulo e contava e encenava histórias; sua roupa era justamente uma camisa de listras e seu cabelo era laranja, usava sapatos com fivelas e vivia em um mundo mágico para mim. O programa se chamava Teatro fantástico e tudo me fazia imaginar que tudo, efetivamente, era de outro mundo. É daí essa reminiscência.

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JSQual o papel da cor em suas ilustrações?

GP – A cor se coloca como elemento substancial de meu trabalho. A economia permite hierarquizar e significar. A ideia é muito sensível, a penumbra anuncia, emoldura e, paradoxalmente, clareia. Nesse sentido, a cor cobra um valor hierárquico e pode significar.
Isso também acontece no teatro: a penumbra, que na imagem seria o acinzentado, traz um peso dramático ao teto que potencializa a cor, por isso, a plateia com uma só base, consegue ver surgir vários tons. Esse critério possibilita a significância da cor, de escrever com os significados e ajuda muito a realizar metáforas legíveis, ou, ao menos, localizadas. Esta ideia devolve à cor o pigmento de seu valor luz, ou seja, se a uma série de cores vemos azul, as cores se juntam, de onde emerge uma atmosfera de um só tom como se, na verdade, fossem banhadas por uma luz azul. Fisicamente, isso acontece e é a qualidade dos esmaltes na pintura.

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O esmalte é uma luz que banha como uma luminária, que tinge qualquer cor. Atualmente estou trabalhando com material, mas utilizo a técnica do esmalte para controlar e unificar a cor. A ideia de fazer surgir o preto é linda.

JSEm seus últimos livros as personagens estão estilizadas e estão se tornando mais adultos. A que se deve essa metamorfose?

GP – Creio que é a liberdade que me deram certos editores a partir do meu olhar. É verdade que os últimos trabalhos se voltaram para uma franqueza severa, e, claro, estão relacionadas aos textos. La migala , por exemplo, é um texto que envolve o desejo veemente da morte e não pode ser de outra forma segundo meu entendimento. Agora, creio que o trabalho não pode desligar-se de nossa vida, não se pode dizer “isso é tempo de trabalho e isso é tempo de vida”, e, neste caso, suponho que uma parte do que vejo e vivo têm essas formas.

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Nunca acreditei que ilustrar um livro possa ser medido e tem mais, penso que você deve se acabar nisso, e o livro fará sua reconstituição e o leitor lerá ou se chateará, mas um ilustrador não tem outra opção que não seja a de manter essa honestidade.

JSA porta na pedra é uma metáfora sobre a qual se sustenta suas ilustrações. Como se dá esse processo criativo?

GP – A pedra no meu universo tem um significado enorme, é um lugar para pensar. Comecei pensando que um livro deve ser como uma pedra, indivisível, estar aí, talvez, perdido, mas resistindo inteiro; depois pensei que também deve ser como uma pedra que te machuca e deixa uma marca; ou, quando realizava oficinas de ilustração o assemelhava ao conceito de que alguém pudesse estar perdido e se sustentar em uma pedra; ou a beleza sobre a palavra que Octavio Paz descrevia, dizendo que esta deve sustentar o pêndulo da vida e fazer oscilar tudo; depois, li uma poesia de Wislawa Szymborska “Conversa com a pedra”, em que, poeticamente falava desta impossibilidade eterna que nos acompanha de querer habitar o universo, de criar artifícios, de desejar sempre essa impossibilidade, mas justamente sobre essa impossibilidade, nós, seja nos livros, nas palavras ou nas ilustrações, temos a possibilidade de inventar portas: é um signo magnífico da imaginação!
A pedra é um espelho de nossa impossibilidade que possibilita, é o impenetrável ao que inventamos (como a ficção) uma entrada. Depois tudo é possível. A ilustração é assim e mais que isso, é de nossa natureza inventarmos portas nas pedras.

JS Qual é seu processo criativo? Como é a evolução de suas ilustrações desde o início até a arte final?

GP – O processo é muito conflituoso e de muita incerteza. Sempre começo escrevendo palavras e rascunhando formas sem saber muito bem aonde ir, até que o próprio diálogo interior me leva à terra firme. Esse primeiro passo é muito intuitivo, vem quando leio pela primeira vez o texto e uma palavra aparece contundente e permanentemente na leitura. Daí, parto para outras leituras, começo a desenhar rostos certificando-me em ampliar o universo do gesto, tudo é a priori, não reflito nada, é só intuição. Então, vou fazendo um caminho que vai encontrando ideias e consolida essa primeira palavra ou a questiona, trabalhar cegamente para encontrar algo, perfurar o nada, isso que nos deixa ver o que estávamos buscando, ainda que não saibamos, até que nos percebemos o que temos diante de nós. Então, o desenho se ilumina.

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Depois, faço um trabalho paralelo com a cor e a textura; para mim, essa parte é como qualificar a cor. Pouco a pouco, tudo vai se entrosando. É arriscado porque podem passar dias sem que encontremos nada ou o que se achou não é de muita serventia, mas a necessidade se beneficia da insistência e – ao fim – tudo faz sentido. Então, nos reduzimos a essa primeira palavra direciona tudo e os elementos brincam por si sós. Ao mesmo tempo, avanço desordenadamente, já que às vezes me detenho em um detalhe ou prefiro solucionar o ritmo do livro, ou me entretenho escrevendo histórias. Aí, ponho em prática algo que aprendi com Pablo Amargo: faço perguntas uma e outra vez, sem deixar de desenhar e sem deixar de montar imagens, o faço em voz alta, às escrevo ou às vezes, termino olhando pela janela como um bobo, até que, milagrosamente, a relação de alguma figura ou algum objeto dizem tudo; o achado e o reunido ditam seu discurso. Começo um exercício simples, sento e redijo uma descrição muito literal de meus desenhos, e nessas explicações tudo se desvela e explica seu sentido, os elementos, as cores, as formas, seus avanços ou suas saídas; ali nasce o conceito e o trabalho se torna filigrana: enfatizo, limpo, reduzo ou ordeno. É como se, depois de fazer ruídos estranhos, sem sentido ou aparentemente sem sentido, permitíssemos que eles mesmos ordenassem sua melodia, o resto é limpar. Assim, todo esse caos é uma ordem por decifrar, tudo é seguir o fio invisível ou quase invisível dos vínculos, por isso é que a gente se decifra ao mesmo tempo em que se delineia no trabalho, porque nossas próprias pegadas são palavras que lemos para dizer alguma coisa. Então, nos abandonamos e a ilustração pertence por inteiro ao livro.

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JS Viver, imaginar, sonhar são três verbos fundamentais em seu processo criativo. Qual é a importância dessas palavras?

GP – São três momentos da vida que gosto de confundir, para que se tornem uma só ação. Não faz muito tempo, lia sobre como os neurônios têm influência direta em tudo o que nos rodeia, uma espécie de receptores hiper suscetíveis, tanto que seu desenvolvimento depende igual – ou até mais – que a informação genética que possuem, ou seja: nós, formados por partículas incertas somos constituídos mais daquilo que não somos do que do que daquilo que somos. Sempre seremos aquilo que nos falta, sempre procuraremos o que requeremos, aquilo que não temos, por isso somos um enorme buraco, somos uma grande falta e sonhar ou imaginar isso que nos falta, é o motor mais poderoso para viver. Isso aprendi nos livros, nas ilustrações.

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JS – O que a técnica digital aporta na hora de se expressar?

GP – Não creio que seja uma vantagem. No que diz respeito ao fazer, não vejo a técnica digital como algo comparativo, é um recurso a mais e se soma a outros. Talvez, o tempo: no computador, o esmalte seca no mesmo momento em que se aplica. Agora, também como com qualquer outra técnica, encontro a possibilidade e brinco; contrariamente ao que se acredita, no trabalho digital, o achado, o encontro, o acidente é uma possibilidade maravilhosa que se estabelece a cada reposicionar dos recursos, a cada prova; é uma ideia encantadora a de trabalhar sem nenhum outro material além da luz, mais ainda, o fato de que todo o seu trabalho seja somente um impulso eletrônico, um 1 ou um 0 bits, sem peso aparente, e que, segundo nosso entender, até faz pouco tempo, era incompreensível, acho poético. Uma vez pensei: é como criar recordações, mas claro, tudo isso é um papo que talvez não interessa, mas a mim ajuda a considerar minhas ferramentas e significá-las.
Antes o artista sonhava com agarrar a luz, e recentemente, entre duas placas de ouro, a luz pode agarrar-se, já não só a sua pegada na fotografia, mas fisicamente um feixe de luz pode parar e ser visto. Assim, a possibilidade de imaginar não está em nenhuma técnica, mas no homem e como ele dá significado a sua ferramenta.

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JS Que aspectos você valoriza em um texto?

GP – Valorizo as tessituras, fendas, imagens incertas, as que o leitor cria para o leitor, mas também as que o próprio texto permite; dou valor a esse universo possível, que nos possibilita divagar com nossos próprios pés; e não é exclusivo de um tipo de texto ou de outro, poesia ou narrativa, inclusive na descrição mais literal, quando está escrita com profundidade, é um espaço imenso para trabalhar, onde alguém pode habitar com magnitude, ir ou vir ou voltar, voltar sempre. Esse é o ponto mais importante, as escritas com profundidade, para que se inundem com nossos silêncios, como ilustrador ou como leitor.

JS Que partes das histórias você representa em suas imagens? Que momentos escolhe para representar e quais são os que não te interessam tanto para criar sua narração pictórica?

GP – Gosto do momento preciso entre o depois que se narra algo e o instante antes de que ele continue, ou seja, o interstício nas palavras do texto. Quando o texto descreve uma ação ou uma situação e termina a oração, em seguida vem o ponto, ilustro esse espaço que existe entre a última palavra e o ponto. Por exemplo, se um texto fala de alguém que desceu e que encontrou algo, ilustro a personagem depois que encontrou esse algo, faço de seu gesto um lugar onde se tensiona o universo, construindo, a partir daí, uma urdidura que se ramifica em subleituras e permitem a construção de metáforas. É um jogo de muito espaço, é como retratar a personagem no momento em que pensa algo.

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Diria que meu trabalho se constituiu em uma série de retratos de observações perdidas. Outra maneira de expandir a realidade. Não gosto de ilustrar a situação descrita e fujo sempre do literal, mas claro que me apoio no contexto embora, aparentemente, possa se ver algo literal, porém, depois acontece algo magnífico para despertar a imaginação; creio que seja nesse lugar que obtenho o tom do meu trabalho, porque ao final, essa fotografia do instante que sempre se perde parece ter um ar melancólico.

JS Que evolução você percebe em seu trabalho, desde o seu primeiro livro publicado em 1997 e o último, editado em 2013?

GP – Lentidão e claridade. Aprendi a ser ilustrador de livros tardiamente. Em meu desenho vi uma linha que se afina, mas que se distancia do gráfico, por mais veemência que tenha em permanecer nele ou por mais que me esforce para me distanciar do figurativo, vejo que entra em uma zona difusa esteticamente. Talvez o mais claro a que possa recorrer é que meu acabamento foi tomando forma, mas sinceramente não é algo que me interesse muito, pois gostaria de me livrar desta carga e desenhar de forma mais solta. A sorte é que sempre podemos voltar ao começo. Agora, sinto que aprendi a construir pontes, ou seja, diante da intenção de escrever um discurso com profundidade ou mesmo complexo, sobre o texto e a ação, recorro sempre à possibilidade de me ajudar nas pontes que permitam o acesso ao leitor: o absurdo, o incerto, o ambíguo, o improvável, são conceitos com os quais estou trabalhando muito, tornaram-se a espinha dorsal do meu trabalho. Estas pontes foram o melhor que consegui aprender durante estes últimos anos depois de tantas oportunidades e erros.

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JS Como avalia a seleção de suas obras em Bolonha (2007, 2008 e 2011), e premiadas com Menção Especial em 2009 na categoria News Horizons, do Bologna Ragazzi Awards, e o Prêmio de Ilustração do CJ Picture Book Awards de 2010? O que significa para você esse reconhecimento?

GP – É um prazer saber que seu trabalho participa desses eventos tão importantes e é uma satisfação que sejam selecionados. Isso infla tanto o ego que rapidamente procuro me afastar e prefiro não mencioná-los para não cair na ignorância, assim, sempre me envolvo com o trabalho e entendo, então, que esse objetivo se torna a possibilidade de dizer, “um aqui”, para ver, em seguida, “um lá” e situar o ocorrido como algo tão passageiro, de maneira que seja somente um ponto no caminho, como tantos outros.

JS O que você pretende transmitir a seus leitores?

GP – Gostaria que misturassem os livros com as lembranças, seja lá o que cada um entende por lembrança. Transmitir a realidade não é minha intenção, ainda que soe absurdo, mas imagino que meu trabalho pertença tanto ao livro que desejaria que quando alguma pessoa mencione a história ou a lembrança, tivesse na cabeça a marca dessas imagens, assim, borradas, estranhas, iminentes. Isso é o que eu gostaria.

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JSQue pintores deixaram marcas em você? E quais ilustradores te seduzem cada vez que olha seus trabalhos?

GP – Os clássicos. Tenho uma paixão profunda por eles: Michelângelo, Durero, Caravaggio, Rembrandt. E acontece algo curioso: os “ismos” me fascinam, a pintura mexicana, Saturnino Herrán, Ricardo Martínez, Francisco Corzas; as vanguardas, aqueles que repensam a arte, mas quando vejo uma obra de Caravaggio, de Michelângelo, acredito que não exista uma contemplação mais profunda que a deles. Com eles, entendo a plenitude da palavra gênio.
Por outro lado, sempre me seduz o trabalho de Wolf Elbruch, de Pablo Auladell, Joanna Concejo, Pablo Amargo, artistas de grande dimensão e que sempre me perturbam, no melhor sentido.

JS O que é beleza? Você a procura em cada um de seus livros?

GP – Beleza é uma construção sustentada pelo universo, que reverbera com profundidade, que mostra sua impertinência, que não se isola, um espelho que reflete e ainda mostra; Borges disse “esse algo que principia o mundo”. E não sei se continuo procurando, porque me traz uma angústia tremenda e muita insegurança, assim, prefiro me conformar com uma boa composição e um bom trabalho com cores. Já disse que renunciei à beleza em meu trabalho, não a procuro mais, só tento falar como quando alguém fala de alguma coisa bonita que viu.

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JS O que significa criar um álbum ilustrado ou um livro-álbum?

GP – É a possibilidade de escrever com outro tempo um paralelo às palavras, escrever sobre a mesma folha, desenhar ou apagar as palavras, revolvê-las, descobri-las para mim ou para os outros, fazer parte de uma conversa, enfim, fazer parte de algo. Também é uma forma de se apropriar do mundo, não porque você se aposse de nada, mas porque algo que é parte do mundo vem até nós, nos diz algo e volta com algo que possa ser dito; é a possibilidade de que nosso olhar se torne voz. É um compromisso muito sério fazer um álbum ilustrado, não porque tenha que ser uma obra de arte, mas porque deve ser algo muito honesto e muito profundo, que não seja banal, superficial, que tenha esse tempo de vida que te levou a fazê-lo, porque, afinal, álbum ilustrado ou livro-álbum, o trabalho dentro do livro, é um trabalho que se transformará em interlocutor, e este deve ser humano para que, então, a possibilidade não deixe de levar o que está reunido ali.

JS O que significa para você A bruxa e o espantalho?

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GP – Significa um momento da minha vida, a trilha de algo que pensava – e continuo pensando. Como a fotografia de um tempo. Penso que minhas propostas não definem nem dizem nada na ilustração, somente acrescentam, como se fosse um comentário. Só isso é o que me importa desse livro. Se alguém o observa esteticamente, não tem nada de formidável, inclusive a história é muito sensível, mas penso que me atrevi a publicá-lo porque a ideia de olhar e dizer o que penso é um desejo que deseja permanecer. Esse é o único significado para mim.

JS Em quais projetos você trabalha atualmente? Você gostaria de ilustrar alguma história específica?

GP – Atualmente trabalho numa seleção de poemas de Lorca, que será editada pela Kalandraka (12 poemas de Frederico Garcia Lorca foi lançado em 2015). Um livro que adiei durante um tempo. Neste momento, gostaria de ilustrar vários poetas, por exemplo Wislawa Szymborska, Herta Müller, Vladimir Holan ou Alda Merini, uma poeta que descobri recentemente.
Estou fazendo um exercício, que não é dos mais nobres: estou desenhando a lápis nas página dos livros desses poetas quando leio. Talvez algum se torne um livro um dia.

JS Que projetos você tem em mente desenvolver?

GP – Tenho dois projetos que estão um pouco “impacientes”: Soledad e outro que se chama El escritor. E, bem, muitos outros… mas o problema é que sou péssimo com a gestão do tempo, me distraio muito fácil, e, quando percebo, estou um ano mais velho… não sei, só espero que amanhã esteja vivo amanhã para poder acordar de novo.

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JS Muito obrigado, Gabriel, por suas palavras e ilustrações.

Referências Bibliográficas

La rana encantada, Jazmín Flores Yarce. México: Corunda, 1997.

Sinfonía natural, Leticia Herrera. Cidade do México: Alfaguara Infantil, 2000.

Si entras al castillo, Adriana Arrieta. Cidade do México: Alfaguara Infantil, 2002.

Jacinto, Eduardo Robles Boza. México: Trillas, 2002.

Cara de aire, Vásquez Beveraggi Zoraida. Cidade do México: Trillas, 2004.

Pájaros de papel, Vásquez Beveraggi Zoraida. Cidade do México: Trillas, 2004.

Circo de vocês, Adriana Arrieta. México: Alfaguara Infantil, 2005.

El pollito de la Avellaneda, Antonio Rubio. Pontevedra: Kalandraka, 2006.

La Llave de oro y otros cuentos, Jacob e Wilhelm Grimm, Cuentos completos IV. Madri: Anaya, 2006.

Hago de voz un cuerpo, María Barandas. Cidade do México: Fondo de Cultura Económica, 2007.

Tres Deseos, Eva Mejuto. Pontevedra: OQO, 2007.

L’umod’acqua, Ivo Rosatti. Reggio Emilia: Zoolibri, 2007.

A grande viagem, Anna Castagnoli. São Paulo: OQO, 2013.

La sfidadellosciamano, Franco Cosimo. Modena: Panini, 2008.

Song of the wind and waves, Seul: Yeowon Media, 2008.

Swanlake. Seul: Yeowon Media, 2009.

Cuentos de Poe, Edgar Allan Poe. Madri: Anaya, 2009.

Carmen, George Bizet. Barcelona: Hipòtesì, 2009.

The Little mermaid, Seul: AgaWorld, 2009.

Los cuatro amigos, Jacob e Wilhelm Grimm. Pontevedra: Kalandraka, 2010.

El taller de corazones, Arturo Abad. Pontevedra: OQO, 2010.

El hombre que entraba por la ventana, Gonzalo Moure. Madri: SM, 2010.

Frida Kahlo, una historia posible, María Barandas. Madri: Anaya, 2010.

As três meninas, Antonio Ventura. Lisboa: Bags of Books, 2011.

A bruxa e o espantalho. São Paulo: Jujuba, 2013.

Poesía eres tú, Gustavo Adolfo Becquer. Madri: Edelvives, 2011.

Los miserables, Víctor Hugo. Barcelona: Teide, 2012.

El libro de la selva, Rudyard Kipling. Cidade do México: Sexto Piso, 2013.

La Bella y la Bestia, Jeanne-Marie Leprince de Beaumont, s/d.

La migalha, Juan José Arreola. Cidade do México: La Caja de los Cerillos, 2013.

Para saber mais visite o blog de Gabriel Pacheco.

Tradução Thaís Albieri

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  • Javier Sobrino

    Nasceu em Astúrias, Espanha. Estudou magistério em Santander e começou a trabalhar em escolas públicas em 1984. Atualmente trabalha como professor do EF1. É escritor e pesquisador na área de literatura infantil e promoção da leitura. Foi agraciado com diversos prêmios, nacionais e internacionais.

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