O papel do papel

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Em 2011, enfrentamos uma tragédia no Japão, um terremoto. Trinta minutos após o terremoto, veio um grande tsunami [Tohoku, março de 2011]. Eu estava em Tóquio e fiquei assustado com o que aconteceu. Não conseguia acreditar que o tsunami tivesse se formado tão rapidamente. Muitos não conseguiram escapar. Mais de 20 mil pessoas morreram, muitas das quais continuam desaparecidas. O noticiário da TV contava histórias tristes sobre pessoas que perderam a família, amigos e casas. O tsunami levou tudo, destruiu tudo. Após o tsunami, ficaram para trás muitas coisas que pareciam lixo, mas que não eram lixo. Eram coisas que haviam pertencido a alguém. Foram encontrados muitos álbuns de fotografia. No entanto, ninguém aparecia para buscá-los.

Temos aqui um pedaço de papel. Ele está inteiro, mas se eu agarrá-lo com força ele vai ficar rasgado, destruído. Acho que a coisa mais importante que as crianças têm que aprender é que as coisas se quebram se forem tratadas com brutalidade. O mesmo vale para seres humanos. Hoje em dia, há muitos sistemas desenvolvidos por computador que são muito úteis, convenientes, e eu também os utilizo. Porém, mesmo que você digite com muita força, a aparência da tela não muda. Além disso, em um computador é fácil apagar e refazer o que se fez. Após o tsunami, muitos álbuns de fotografias perduraram, mas os arquivos e dados de computador nunca foram recuperados. A presença é algo muito importante e o livro se torna um objeto para ser compartilhado.

Tenho trabalhado com papeis para livros e também com workshops. As crianças precisam aprender a tratar os papeis com delicadeza, do contrário eles se danificam facilmente. A sensibilidade humana deve ser aprendida na infância. Livros ilustrados, portanto, devem permitir às crianças experienciá-los como objetos, além de compartilhar com a mãe e o pai experiências que irão dar apoio ao seu processo de crescimento.

Outro problema grave que enfrentamos foi o acidente da usina nuclear [Fukushima I, março de 2011]. A usina explodiu e a radiação se espalhou. Desde então, somos cuidadosos em relação à maneira de viver com segurança, no que descobrimos ser um sistema sem controle.

A circulação é algo muito importante. A quantidade de água que circula em volta da terra, por exemplo, 13,5 bilhões de metros cúbicos, é mais ou menos a mesma da Antiguidade. Às vezes chove e a água é absorvida pelo solo ou evapora, transformando-se em nuvens. Quase 70% do nosso corpo é água. Morrer significa secar. A água deixa o corpo e volta a circular na grande cadeia de circulação de água.

Temos medo que a radiação afete essa circulação. Realmente precisamos saber como tomar as decisões corretas, levando em consideração não só o fator econômico, mas também o sistema natural ao qual pertencemos.

Tenho certeza de que as crianças desenvolvem a sensibilidade por meio de livros feitos com papel e produzidos com muito cuidado.1Texto de Katsumi Komagata para o seminário Conversas ao Pé da Página de 1/8/2012. Saiba mais sobre ele nesta entrevista para a EMÍLIA.

Tradução Carla Schiavetto

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    Texto de Katsumi Komagata para o seminário Conversas ao Pé da Página de 1/8/2012. Saiba mais sobre ele nesta entrevista para a EMÍLIA.

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  • Katsumi Komagata

    Nasceu no Japão, designer japonês autor de livros para crianças, reconhecido mundialmente pelos seus livros de artista. Em 1977, mudou-se para Nova York e trabalhou como designer gráfico na CBS e Schechter Group. Em 1983 voltou para o Japão e, em 1986, fundou a editora One Stroke. Em 1992, a editora Kaiseisha publicou Little eyes, uma série de 10 livros infantis (sem palavras), criada depois do nascimento de sua filha, hoje com 24 anos. Blog do autor: http://d.hatena.ne.jp/onestroke/.

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