Os lugares incomuns

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E é sempre melhor o impreciso que embala do que o certo que basta,
Porque o que basta acaba onde basta, e onde acaba não basta,
E nada que se pareça com isso devia ser o sentido da vida…

Fernando Pessoa, “A casa branca nau preta”

Autores e críticos de diferentes nacionalidades, em épocas distintas, já definiram o espaço da leitura literária como um “terceiro”: nem de um lado, nem de outro, mas entre. Como o traço forte que risca as fronteiras nos mapas e delimita, por sua simples existência, os lados que não habita. Uma marca tênue que se amplia mediante o contato.

A escritora argentina Graciela Montes, uma das maiores defensoras de um legítimo espaço social para a leitura literária, deu a um de seus livros de ensaios críticos o título de La frontera indómita – en torno a la construcción y defensa del espacio poético. No capítulo que dá nome ao livro, ela explora a metáfora da fronteira para se referir ao lugar da literatura na sociedade definindo-a também como uma “terceira zona”, um espaço “que não se faz de uma única vez ou para sempre, mas que está sempre em elaboração (…) uma fronteira espessa, que contém de tudo e é independente: não pertence ao fora, nem ao dentro, nem às puras subjetividades, nem ao real mundo objetivo.”1

Certamente uma imagem literária que expressa muito bem essa ideia está no conto “A terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa. Lá, no leito sempre fluido das águas, num espaço ficcional inclassificável, repousa o desejo do encontro: “e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro – o rio.”2

Alicia Varela
Ilustração de Alicia Varela

Fronteira e rio, espaços de movimento, são metáforas perfeitas para o lugar incomum da leitura literária. Represá-los é interromper sua natureza de fluxo, seu caráter indomável. Da mesma forma, reduzir a leitura literária aos ‘lugares comuns’ é condená-la à morte. Não foi feita para servir a uns poucos senhores de grandes impérios, nem para exercer funções impostas de fora para dentro, mas para permanecer em sua nada estática posição de transição.

É de um terceiro espaço que em muito se assemelha a este que nos fala, ainda, o crítico francês Roland Barthes, ao se referir ao indizível ‘espaço de fruição’3. Indizível porque incapturável, intraduzível, apenas habitável como a terceira margem de Rosa: “(…) a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais.”4 Para Barthes, este espaço de fruição é criado justamente pela ‘imprevisão do desfrute’. Algo da ordem do desejo e da experiência.

Quando este terceiro espaço fronteiriço e fruidor é intencionalmente transformado em lugar de acomodação propenso a cristalizações, sua geografia como que se transfigura em local de retórica utilitária, frequentado principalmente por quem tem pouco a dizer, já que não se permite o deslocamento necessário à ventilação das ideias. Em outras palavras, quando a literatura, seja ela escrita para crianças, jovens ou adultos, é reduzida à veiculação do ‘politicamente correto’, à reafirmação de padrões instituídos arbitrariamente por determinados grupos sociais ou ao autoritarismo de velhos paradigmas, torna-se, então, lugar comum. Caminha rumo a conhecidos precipícios e perde o frescor das férteis paisagens de onde brota naturalmente o esplendor da diversidade.

Em especial na literatura destinada a crianças e jovens é grande a presença dos lugares comuns, às vezes mascarados por novas modas lançadas pelo aquecido mercado de livros. Frequentam esse chamado lugar comum: a repetição exaustiva de determinadas ‘fórmulas textuais’ apresentadas incansavelmente ao público logo depois que um lançamento de sucesso tenha alcançado altas cifras; o tratamento superficial, estereotipado ou mesmo preconceituoso de temas que envolvem questões complexas, como a diversidade sexual, a inadequação aos gêneros, a construção da identidade, as novas configurações familiares, as relações de amor e amizade; a ausência ou excessiva ‘proteção’ na abordagem de assuntos considerados muitas vezes ‘impróprios’, como a morte, a solidão, a angústia, os problemas sociais, como as guerras civis, os deslocamentos humanos forçados, as grandes catástrofes. O restrito tratamento temático e o empobrecimento formal geram uma presença excessiva de ‘lugares comuns’ que mantém uma matriz rígida semelhante: são atravessados por uma ideologia conservadora que privilegia certa uniformidade estéril nos modos de pensar a infância, a cultura e a arte – campos criativos, por definição.

Os “livros transformadores”

Adolfo Serra
Ilustração Adolfo Serra

O autor e crítico inglês Aidan Chambers, que esteve no Brasil participando do Conversas ao Pé da Página IV – 2014, defende que o espaço da leitura literária destinada às crianças e aos jovens seja preenchido, sobretudo, pelo que chama de “livros transformadores” – aqueles que não temem os lugares incomuns. Para Chambers, a dificuldade com esses livros reside, na maioria das vezes, na falta de compreensão e consequente não aceitação por parte do adulto mediador da leitura e não da criança ou jovem, já que sua genuína inocência lhes permite viver efetivamente a experiência estética da leitura, sem que pré-concepções influenciem sua interação com a obra. Não se trata de uma inocência romântica, mas de uma abertura perceptiva necessária ao encontro com o conhecimento artístico. É por isso que os pequenos leitores transitam por esta ‘terceira margem’ e não raro vivem encontros frutíferos.

Chambers faz uma ressalva importante sobre estes potenciais encontros: não são, necessariamente, divertidos. E neste ponto, o autor inglês é radical: “não estou muito interessado em fazer das crianças leitores que buscam distrair-se. Sempre assumi que a ideia é facilitar às crianças uma leitura de literatura o mais profunda e desejável possível.”5 Isso não quer dizer, em absoluto, que estes livros não possam ter humor. Ao contrário, o humor, como manifestação de um pensamento inteligente, é sempre bem-vindo no universo da literatura. Sua presença costuma estar atrelada a sofisticados modos de expressão lingüística, como por exemplo a ironia, a antítese e o nonsense. É preciso, no entanto, distinguir esse humor refinado do entretenimento vazio que tantas vezes desrespeita o leitor em formação, oferecendo-lhe uma linguagem tagarela e imagens carregadas de estereótipos.

O que há, então, nestes “livros transformadores”? Ainda segundo Chambers, podemos defini-los da seguinte maneira: “enriquecem em algum grau minha imagem do mundo e sua existência; me ajudam a conhecer-me e a compreender os outros e a sociedade em que vivo, assim como a sociedade em que vivem as outras pessoas. Os livros transformadores tem muitos níveis, múltiplos temas, são linguisticamente conscientes e densos. O tipo de escritura oposta é reducionista, limita o que lemos a estreita margem do familiar, do óbvio, do imediatamente atrativo e se concentra em temas e tratamentos confinados ao complacente e já ensaiado.”6 Densidade, consciência e multiplicidade são adjetivos que podem ser equivocadamente traduzidos por muitos mediadores como sinônimos de “livros difíceis” ou “obscuros”. Neste caso, é necessário perguntar-se: difíceis para quem? Obscuros por quê? Novamente, nos vemos às voltas com pré-concepções que habitam muito mais os leitos estreitos por onde trafegam adultos acostumados a um certo tipo de navegação, do que às caudalosas águas nas quais, sem medo, mergulham os leitores mais sedentos, afeitos a aventuras luminosas.

Certamente esta é uma das razões que explica o lugar escondido onde permanecem muitas vezes os “livros transformadores”. Colocados nas últimas prateleiras das estantes nas livrarias e bibliotecas, no fundo dos baús e caixas circulantes de livros ou estigmatizados nas seções intituladas “livros para falar de assuntos difíceis”, o fato é que seguem desconhecidos. Isso também ocorre porque são livros que, em geral, pedem uma conversa posterior à leitura. Não uma ‘prestação de contas’ sobre o que se entendeu da história, mas um diálogo, um espaço para construir sentidos compartilhados, alargar horizontes, penetrar bosques e encontrar clareiras. Como também afirma Chambers, “conversar sobre um livro é voltar a lê-lo” e estes “livros transformadores” exigem leituras e releituras – e, claro, um interlocutor qualificado.

Para melhor elucidar os aspectos discutidos até aqui, passaremos a análise de dois livros que podem ser considerados “transformadores” principalmente por permitirem ao leitor a entrada em lugares incomuns. Cada um a sua maneira, os livros por ora selecionados apresentam uma variedade de formas verbais e não-verbais e projetos editoriais consistentes. Dentre outras coisas em comum, tratam de temas considerados impenetráveis por muitos mediadores e leitores adultos e o fazem com maestria artística, tanto no que diz respeito ao texto, quanto às ilustrações.

Maestria artística para visitar lugares incomuns

A história de Júlia

A história de Júlia e sua sombra de menino, de Christian Bruel e Anne Galland, com ilustrações de Anne Bozellec foi publicado no Brasil em 2010 pela Editora Scipione, sob edição de Adilson Miguel e com tradução de Álvaro Faleiros. É considerado um clássico da literatura infantil francesa, publicado originalmente em 1976 pela editora Le Sourire qui mord, reimpresso muitas vezes e traduzido para vários idiomas.

Como indica o título, neste livro a menina Júlia descobre-se de repente com uma sombra de menino. Seus pais vivem a repetir que ela se parece com um menino, já que não entendem, nem aceitam sua vivacidade e natureza livre, até que um dia ela acorda enxergando-se com sombra de menino.

Uma narrativa cheia de diálogos, entremeada por trechos em versos, relata o cotidiano de Júlia nos espaços da casa e sua conflituosa relação com os pais. As ilustrações permitem que o leitor construa, em profundidade, imagens detalhadas da infância doméstica de Júlia. Desenhadas com nanquim, as belíssimas ilustrações em preto e branco captam não apenas a atmosfera dos espaços externos – a cidade, o quarto da menina, a casa e mais adiante o parque – mas também, e principalmente, os traços peculiares dos gestos e feições dos personagens, revelando seu estado interior.

Em flashes e closes quase cinematográficos, as imagens inserem o leitor no ambiente da casa. O quarto de Júlia revela seu universo expansivo e lúdico: há uma escrivaninha cheia de objetos, bichos de pelúcia, um jogo de dardos pendurado na parede, uma bola no chão, roupas espalhadas por toda parte e um pierrô que parece observá-la pensativo, ao fundo. Nesse espaço, a menina de cabelos longos e esvoaçantes, deitada em sua cama, lê calçando patins, ao lado do gato preto, companheiro fiel. O diálogo que abre o relato é entre mãe e filha. Diante deste cenário caótico, a mãe de Júlia não entende por que a menina precisa ler calçando patins e interroga sentenciando: ‘você sempre tem que fazer tudo tão diferente?’. Ao que a menina responde: ‘eu não sou como todo mundo, mamãe. Eu sou a Júlia!’

A afirmação desta identidade singular – ser a Júlia – é, na verdade, o principal nível de leitura do livro, que se desdobra em tantos outros: a concepção que os pais tem da infância; as projeções constantes que fazem, comparando a menina com parentes e procurando enquadrá-la em suas próprias expectativas; a confusão e a angústia vividas por Júlia em busca de uma identidade difícil de construir diante do olhar vigilante dos adultos e a cumplicidade apaziguadora que ela encontra em outra criança, não por acaso, um menino vivendo situações semelhantes. São camadas de leitura que certamente conversarão com sentimentos comuns às crianças leitoras, em níveis consciente e inconsciente, por meio de recursos plásticos e literários que tratam de tornar essa experiência de leitura sobretudo estética e não terapêutica. Contribuem para isso elementos como:

• a precisão lingüística de algumas construções que guardam significados profundos, comunicados de forma certeira: “Mas no fundo o que ela gostaria mesmo era de ganhar um beijo”.

• a presença do discurso em verso, lúdico e ritmado, falando ao leitor de forma poética, intercalado à prosa:

“Quando uma sombra,
sombria demais,
segue você, como
sua própria sombra,
e em você ela até tromba,
isso de fato assombra.”

• um projeto editorial consistente que se evidencia no cuidadoso projeto gráfico, no uso intencional das páginas duplas, fazendo cortes laterais para apresentar o diálogo entre texto e imagem, apoiando-se no uso intenso de poucas cores;

• uma tradução primorosa, atenta não apenas às especificidades da língua, mas sobretudo coerente com o contexto formal e temático da obra, como atestam as afirmações de Álvaro Faleiros, tradutor, ao explicar as decisões tomadas com relação à tradução dos versos finais do livro. Em francês:

“Julie-chipie
Julie-furie
Julie-Julie”

Segundo o tradutor, os dois primeiros versos significam, literalmente: Júlia provocadora (Julie-chipie) e Júlia furiosa (Julie-furie) e foram traduzidos por:

“Júlia-fagulha
Júlia-fúria
Júlia-Júlia”

Faleiros justifica suas escolhas afirmando que “a identidade entre Júlia e suas características deve-se também aos ecos sonoros do nome da personagem nos adjetivos que a qualificam.”7 O trio ‘fagulha, fúria e Júlia’ expressa de modo conciso a precisa ligação entre forma e conteúdo presente não apenas na tradução, mas em todo o livro.

Nota-se, dessa maneira, que o projeto deste livro é revestido de coerência editorial desde sua origem, incluindo a edição brasileira, o que eleva a potência de diálogo entre as diferentes linguagens que o compõem – plástica, verbal, gráfica – obtendo como resultado um objeto cultural e artístico que oferece múltiplas possibilidades leitoras, em nada semelhantes ao lugar comum dos livros que já nascem predestinados a unilateralidade.

A diaba e sua filha

A edição brasileira de A diaba e sua filha, de Marie Ndiaye, publicada pela CosacNaify em 2011 traz texto de apresentação assinado pelo escritor moçambicano Mia Couto: “este conto é uma história extraordinária, repleta de mistério e sedução, que confirma, em mim, a ideia de que aquilo que chamamos literatura infantil é, muitas vezes, um estereótipo fundado numa falsa menoridade da criança e na verdadeira arrogância do adulto.”

A narrativa da autora francesa se constrói num tempo e espaço indefinidos, com personagens fortes, mas anônimos, que podem ser cada um de nós. No relato, temos uma história protagonizada por uma estranha diaba “com rosto agradável de olhar, pele escura e olhos brilhantes”. Ela passa de casa em casa perguntando por sua filha desaparecida, aos habitantes de uma aldeia. Todos a recebem primeiramente de modo acolhedor, até avistarem seus pés – “pequenos cascos negros e delicados como os de uma cabra, separados por uma fenda alongada”. Esta visão provoca verdadeiro pavor em todos que se arriscam a atender a pobre diaba e as portas das casas, sem exceção, se fecham para ela. “Não havia piedade possível para a diaba, tão logo percebiam que seus pés não eram como os dos humanos.” Sem entender o que acontece, a diaba – que embora receba esse nome mostra-se ingênua e inofensiva – segue sua busca incessante, com “olhos cheios de lágrimas e esperança”. Ao caminhar, espalha um “clique-claque, clique-claque” por onde passa. Só depois que o ruído de seus passos cessa, todos voltam a acender as luzes de suas casas. Enquanto isso, a diaba volta para a floresta densa e sombria onde vive. O medo do desconhecido e diferente gera não apenas discriminação, mas também fantasias e os moradores passam a imaginar que a tal filha da diaba poderia estar entre eles, ameaçando-os com sua abominável presença. Este simples pensamento faz com que observem com desconfiança todas as crianças que apresentem qualquer possível ‘anormalidade’ em sua aparência física.

Neste ponto da narrativa, o leitor é surpreendido com mais uma característica desta incomum diaba: ela possui memória e recorda cenas belas. Lembra-se de ter tido uma filha, muito tempo atrás, de tê-la acariciado e segurado em seus braços, antes dela desaparecer. E o principal: lembra-se que foi a partir deste dia que “passou a ter pequenos cascos negros e delicados no lugar dos pés”. Uma perda que a transfigurou. Lembra também que já teve casa, “com uma luz amarela que iluminava o campo ao redor” que desaparecera junto com a criança. Envolto nesta narrativa misteriosa, o leitor permanece em uma atmosfera nebulosa, reafirmada pelas ilustrações em tons de azul noturno, salpicados por pontos de luz, que contrastam com o tom amarelado do papel. A pintura da premiada ilustradora Nadja, com pinceladas grossas e contornos imprecisos, perturbam e fascinam ao mesmo tempo, assim como o que se descreve no texto verbal.

A diaba e sua filha miolo

Em menos de quarenta páginas, o leitor descobre, afinal, o paradeiro da filha da diaba e torna a se surpreender com o aparentemente inexplicável. De uma sutileza tocante, o encontro entre mãe e filha revela, simultaneamente, o melhor e o pior que habita o humano: a coragem gratuita dos sentimentos genuínos e a mais profunda crueldade, fruto do medo e da ignorância. Ainda nas palavras de Mia Couto, “Ndiaye escreve sobre os nossos medos e o modo como são coletivamente construídos. Escreve sobre a necessidade de classificarmos os outros e os arrumarmos em bons e maus, em anjos e monstros. Nestas páginas se inscreve, enfim, a facilidade em culparmos e diabolizarmos os que são diferentes e o modo como os sinais de aparência se erguem como marca de fronteira entre os ‘nossos’ e os ‘do lado de lá.’”

A possibilidade de entrar em contato com estes ‘outros’ que também moram em nós, olhando-(n)os com profundidade pela densa espessura das palavras e das imagens, faz desta obra mais um exemplo de “livro transformador” – aquele que ajuda o leitor a atravessar fronteiras, seduzindo-o com encantos raros e levando-o, de mãos dadas, a visitar os sítios mais recônditos.

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  • Cristiane Fernandes Tavares

    É graduada em Comunicação Social pela Faculdade Cásper Líbero e Mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP. Publicou artigos sobre leitura e literatura em revistas acadêmicas como a Comunicação & Educação – USP/ECA e é autora de Quintais, Editora Salesiana, 2007. Realizou assessorias, cursos e oficinas pelo Centro de Estudos da Escola da Vila. Integrou e coordenou a equipe de formadores de professores da rede municipal de São Caetano do Sul. É colaboradora do Movimenta Projetos em Educação e da Comunidade Educativa CEDAC e coordena projetos na Associação Crescer Sempre, em parceria com escolas estaduais da comunidade de Paraisópolis. É resenhista no Caderno Literatura da revista Brasileiros.

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