Rebecca Dautremer

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Conheci Rebecca Dautremer há alguns anos – foi um impacto, a partir do qual comecei a seguir seus passos e seus trabalhos. Fiquei impressionada não só com a sua técnica, mas com os ângulos e climas, perspectivas e profundidade, por ela criados em cada ilustração. Seu olhar, seus recortes fazem dela, certamente, uma das maiores ilustradoras da atualidade. Antes mesmo do lançamento da EMÍLIA uma entrevista com Rebecca já estava em pauta. Agora, apresentamos a nossos leitores esta entrevista feita pela equipe editorial da Peonza, revista espanhola sobre literatura infantil e juvenil, com a qual fechamos uma parceria.

Agradecemos a Rebecca e a Javier Sobrino (Revista Peonza) pela possibilidade desta publicação.
Dolores Prades | Revista EMÍLIA

Rebecca Dautremer

Rebecca nasceu em Gap (França) em 1971. Passou a infância entre os vales alpinos e a região próxima ao rio Drôme. Estudou artes em Paris e, já formada, fez seu primeiro trabalho como ilustradora em 1995, para o livro de Alphonse Daudet, O menino espião. No ano seguinte começou a trabalhar com a editora Gautier-Languereau, que a acolhe e permite que faça seus trabalhos. É atualmente a editora de seus maiores sucessos, individuais ou em colaboração com seu marido, Tai-Marc Le Thanh. Além de ilustradora, faz cenografia e desenhou vestuários para vários espetáculos. No final de 2010 estreou seu primeiro longa como diretora artística, Kérity e a casa dos contos, dirigido por Dominique Monféry. Seus desenhos podem ser vistos no livro Artbook Rebecca Dautremer (2009, Éditions du Chêne), ou no site www.rebeccadautremer.com. No Brasil, Princesas foi publicado pela Salamandra e Cyrano e Babayaga, pela Martins.1Entrevista publicada na revista Peonza, nº 97, junho de 2011.

Javier SobrinoComo foi sua infância perto dos Alpes? Existe algum momento daquela época que você procura resgatar através de suas ilustrações?

Rebecca Dautremer – Nasci em 20 de agosto de 1971 em Gap, região que pertence aos Altos Alpes, muito perto da Itália. Meus pais eram muito jovens e tive uma infância um pouco boêmia. Tenho lembranças maravilhosas. Com quatro anos meu pai nos levou ao Drôme, uma região muito selvagem no Sul da França, para criar ovelhas e cabras e fazer queijo. Eram os anos 1970 e a ideologia do “retorno à natureza” estava em alta. Comecei a escola muito tarde, quando meus pais voltaram para o “vale”, coisa que eu não gostei muito. Talvez seja por isso que durante bastante tempo fui muito tímida e um pouco selvagem. Não tinha muitos amigos. A ideia de grupo sempre foi algo que me incomodou um pouco. Mesmo agora, quando as coisas mudaram, eu me sinto bem no meu trabalho, que implica numa vida bastante solitária.

Minhas lembranças são de uma infância muito feliz, cheia de fantasia, com pais muito abertos que me mimaram, o que me influenciou mais tarde. Meu pai tornou-se marceneiro; e até hoje continua fazendo trabalhos manuais e exercendo a profissão com paixão. Entrou em conflito com sua família, que desde o início desaprovou seu estilo de vida. Por isso, meus pais sempre concordaram com as minhas escolhas e sempre apoiaram a minha paixão, o desenho, que pratiquei desde muito jovem. Não utilizo minhas memórias de infância diretamente no meu trabalho, mas minha infância e minha educação me permitiram desenvolver meu imaginário e minha capacidade de sonhar coisas.

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Pode-se dizer que você era uma apaixonada por livros naqueles anos?

RD – Tive a infância que eu queria. Lembro de muitos bons momentos com meus irmãos, escutando minha mãe ou minha avó contando histórias. Lia um pouco de tudo e não importa muito o quê. Eu contava histórias para mim mesma, passava muito tempo sonhando e imaginando fora dos livros. Não era propriamente uma apaixonada por eles.

JS Você estudou Artes Decorativas em Paris. O que significou para você a editora Gautier-Languereau? O que você acha que eles viram nas suas ilustrações?

RD – Fui estudante de Artes Decorativas em Paris durante quatro anos, mas no curso de artes gráficas. Naquela época (e provavelmente agora também) a ilustração não era valorizada e não tive coragem de me inscrever nesse curso. Gostava de design gráfico, mas a imagem me pegou; tive muita sorte. Por intermédio de um amigo professor me apresentei na Gautier-Languereau, que me encomendou trabalhos quando eu ainda era estudante. Eles acreditaram em mim e me orientaram até que me tornei “suficientemente” competente. Devo muito a eles. Não pensava em trabalhar lá, mas o acaso e a sorte me levaram a Gautier-Languereau, onde fui bem acolhida.

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JS A pintura e o cinema são duas influências que você reconhece. Vermeer é um dos pintores que você mais aprecia. O que você valoriza no trabalho dele?

RD – É verdade. O cinema e, de modo geral, a imagem fotográfica, me fascinam e me inspiram. Penso sempre como se tivesse uma câmera fotográfica quando faço uma ilustração. Procuro um enquadramento, um ponto de vista, um ângulo, a profundidade de campo, inclusive o tempo de exposição. Quando me faltam ideias, dou uma olhada em algum livro de fotografia e sempre encontro uma pista.

Sobre pintura, me sinto mais confortável com as obras de pintores dos séculos XVI ou XVII. Amo seus retratos, fotografias da época, seus personagens congelados em uma pose sobre um fundo neutro. A pintura flamenga me diz muito e Vermeer – com sua luz e suas cores naturais – parece que captura a vida em seus quadros e lhes dá uma outra existência. Também gosto de Brueghel e de suas criaturas fantásticas, incrivelmente modernas. Vi Velázquez, pela primeira vez, recentemente no Museu do Prado e me emocionei muito.

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babayaga ambiente


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Fotografar é capturar momentos da realidade e fazer ilustrações é capturar momentos de uma história. Como a fotografia influenciou seu trabalho de ilustradora?

RD – Acho que já respondi em parte, mas posso comentar que pratiquei muito no laboratório fotográfico quando estudei artes. No começo de minha carreira, sonhava em ser fotógrafa. Tinha comprado algum material e um amigo fotógrafo me contratava de tempos em tempos. Ia ao seu estúdio e fui aprendendo; admirava muito a sua maneira de trabalhar. Mas não tinha certeza de ter evoluído nesse ambiente da fotografia, que me parecia mais difícil que o da ilustração e da edição. De toda maneira, continuo de vez em quando fazendo uma imagem como eu gostaria que fosse se tivesse uma câmera. Tento encontrar as texturas difusas e suaves da granulação fotográfica.

JS O processo prévio à ilustração de um texto é muito importante. Como você faz a documentação e o planejamento de um álbum ilustrado?

RD – Acho que de maneira muito tradicional. Preciso de algum tempo para “digerir” o texto, especialmente o universo e o ambiente em que se desenvolve. Penso muito sobre o que fazer antes de pegar um lápis. Sei quantos meses levo para avançar com cada livro e o tempo suficiente que preciso para imaginar e sonhar com as imagens que vou desenhar. Tento ter uma visão geral do livro, saber exatamente o tom e o estilo que terá, encontrar o fio onde prender a história. Buscar o melhor “ângulo de ataque”, o mais pessoal, que faça que meu livro traga alguma novidade. Tento não me apegar à minha primeira ideia, não ir direto ao óbvio. Não é fácil.

Se o tema exige, pesquiso. Mas isso nem sempre é necessário. Nunca me atenho muito aos detalhes reais. Se em algum momento me baseio na pesquisa, sempre há um momento posterior em que a deixo de lado para remodelar a imagem do meu jeito. Na sequência faço um storyboard, ou seja, o percurso de todas as páginas do livro para definir o ritmo. Nada é mais necessário que saber pelo menos o conteúdo de cada página antes de começar a primeira.

caderno Rebecca


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Normalmente você usa guache, e de vez em quando óleo, para dar cor às suas imagens. Como você valora a cor? É simplesmente decorativa ou tem a ver com o enredo?

RD – Só uso guache. O guache é um material muito opaco e costumo dar um pouco de brilho nos meus desenhos quando os finalizo, isto me permite dar um pouco de contraste às minhas cores; nada além disso. Para mim, a cor é a luz. É claro que é também decorativa, mas não deveria. Minha escolha de uma cor se faz pelo contraste ou pela luz que ela traz. Finalmente, me preocupo mais com o valor da cor que com o tom. Por outro lado, uso muito pouco o valor sugestivo da cor.

JS Em muitos de seus livros predominam os tons de vermelho. O que essa cor lhe oferece que as outras não?

RD – Por um lado é a facilidade e, por outro, um hábito meu o de usar essa cor que traz muita luz e com a qual me sinto bem. Tenho a impressão de que o vermelho é a cor por excelência. Mas luto contra meus hábitos e atualmente me esforço para explorar outras harmonias.

montagem vermelhos Rebecca


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Sobre a relação entre imagens e texto, que momentos de um texto você escolhe para ilustrar? O que você valoriza especialmente numa história?

RD – Com minhas ilustrações, tento construir uma história que não seja redundante com o texto. Não há necessidade de parafraseá-lo ou descrevê-lo palavra por palavra. Tento propor outro ponto de vista sobre a aventura, capturar o leitor em um caminho paralelo, que irá enriquecer a sua leitura e lhe abrir outras portas. Fazer com que ele tome caminhos sinuosos que o levem inclusive a deixar a leitura e voltar a ela novamente mais tarde. Ser o contraponto do autor para desafiar o leitor, para intrigá-lo. Gosto de ilustrar um detalhe insignificante do texto, por em evidência um personagem secundário, surpreender o leitor para que ele não se canse.

montagem detalhes Rebecca


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Os protagonistas de muitos dos seus livros, Cyrano, Elvis ou Princesas, escritos por você ou por seu marido Tai-Marc Le Thanh, são personagens conhecidos. O que a atrai nesses personagens? A sua popularidade, suas histórias?

RD – Ilustrar histórias conhecidas é todo um desafio, porque temos que estar à altura de tudo que foi feito antes, algo que também pode ser uma vantagem. Essas personagens existem no imaginário coletivo e seus nomes são evocadores. Ler um título como Cyrano já é todo um planejamento! É algo muito tentador enfrentá-lo. Muitas imagens vêm à minha cabeça quando começo a trabalhar um personagem como Elvis ou o Pequeno Polegar. Tantas que é necessário ordená-las e tirar delas o melhor.

montagem Elvis Cyrano Rebecca


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O que mais lhe atrai nos contos populares ilustrados por você, como Nasrudín ou Babayaga?

RD – Quando era criança eu adorava a história de Babayaga. Lembro-me do livro, das ilustrações e da minha mãe lendo a história. Me chamava a atenção a crueldade do personagem e a violência da perseguição. Foi uma história que me deixou uma impressão muito forte, um sentimento de medo e alívio quando tudo acaba bem. Fiquei feliz revivendo essa história e suas emoções, imaginando minha própria versão. No entanto, quando comecei a trabalhar em Nasrudín não conhecia o personagem e, confesso, não tinha nenhum apego por ele.

JS Seu mundo criativo geralmente se situa no passado. Por que voltar o olhar para trás? O que você busca com isso?

RD – Temo estar contaminada pela moda retrô, vintage. É verdade que o passado faz sonhar. O cotidiano é muito próximo e é mais duro – melhor um pais distante que a esquina da nossa rua, a grama cresce sempre mais verde do outro lado… Mas não me atenho a um passado muito preciso, gosto de misturar referências. Não tenho dúvidas em desenhar uma tomada na parede atrás de um personagem com roupas medievais. Nada me obriga. Os vestidos largos, as formas amplas, os chapéus e acessórios divertidos me parecem muito mais agradáveis e poéticos que um jeans justo e uma camiseta. É assim que eu sinto.

JS Muitos de seus personagens, sendo de raças diferentes, têm fisionomias muito semelhantes, especialmente os olhos. Por que você os desenha com essa amplitude e grandeza? Por que os olhos são tão fundamentais? Uma questão estética ou pelo que significa ver?

RD – Não sei explicar. Há muitas coisas no meu trabalho que estão lá, simplesmente, porque não sei fazê-las de outra forma. Sem dúvida, gostaria de mudar as fisionomias de um personagem para outro, mas não posso. Todos os ilustradores têm tiques e manias dos que não pode se desprender. É assim que se cria um estilo. Eu tento, há algum tempo já, mudar os meus personagens, identificando-os mais profundamente, mas é muito difícil!

montagem olhos Rebecca


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Fale sobre a beleza. O que significa? Como você busca e alcança a beleza nas suas ilustrações?

RD Oh là là! Trabalho verdadeiramente com meu feeling. Esta entrevista me obriga teorizar sobre meu próprio trabalho, pois quando estou no meio dele não penso muito e me deixo levar pelas minhas sensações. Olho para mim, honestamente, e para minhas emoções. Depois tento transpô-las para o papel, tanto quanto posso. Não controlo a emoção do leitor, fico feliz se ele fica mexido, mas não sei muito bem porquê.

JS O que a fascina no seu trabalho como ilustradora? Que qualidades são necessárias na hora de realizar seu trabalho?

RD – Todos os dias repito para mim mesma que tenho uma incrível oportunidade de poder viver da minha paixão. Não hesito em começar a trabalhar. As férias longas me cansam e não costumo tirá-las muito. Verdadeiramente, não tenho a impressão de estar trabalhando. No entanto, sei que para se chegar a um trabalho de qualidade são necessárias horas e horas, pesquisando em cima da mesa. Tudo está por ser feito. Sempre se procura progredir, não resta dúvida. Não vale a pena iludir-se por uma pequena vitória ou por um trabalho com relativo sucesso. Procuro surpreender-me a cada dia, fazer melhor do que ontem. Não é fácil.

JS Que lugares, momentos ou situações lhe inspiram e geram ideias para seu trabalho?

RD – Honestamente, qualquer lugar, qualquer hora podem me inspirar. E muitas vezes não são aqueles considerados “inspiradores”. Diante de lugares bonitos ou de belas paisagens sempre me pergunto: “Ah, esse cenário vai me encher de ideias?”, mas não é necessariamente verdadeiro. Os enquadramentos magníficos são no final um pouco gélidos; em um contexto comum e anódino há que se descobrir o cantinho da beleza, o pequeno raio de luz que ilumina todo o feio do seu entorno. Isso é o mais excitante.

montagem Galapagos Rebecca


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Como você avalia o fato de fazer livros para crianças? É uma alegria, um desafio, uma responsabilidade?

RD – Não penso especificamente nas crianças quando trabalho, penso em pessoas de todas as idades. De fato, muitos dos meus livros são comprados por adultos. Até agora não senti o peso da responsabilidade, não tive encomendas mais delicadas. Este ano estou ilustrando a Bíblia, que Phillipe Lechermeier conta do seu jeito, e sinto que tenho de fazer escolhas, assumir responsabilidades, sim! Mas é emocionante.

JS Ternura, alegria, medo, curiosidade, admiração… são algumas das palavras que nascem depois de ver seus livros. O que você gostaria que os leitores sentissem?

RD – Tudo o que vocês disseram parece-me mais do que suficiente. Sonho, evasão, sentir um pouco de emoção para se sentir vivo.

JS Que sentimentos produzem os encontros com pequenos leitores, em escolas e bibliotecas, ou com futuros ilustradores?

RD – O trabalho de ilustrador é muito solitário, algo que combina comigo. Mas, faz bem sair do atelier para encontrar com os “outros”. Adoro reencontrar meus amigos nos salões literários; autores e ilustradores com quem compartilhar experiências e dificuldades. Com as crianças, tomo pé, algo que me permite comentar a sua percepção sobre o meu trabalho, às vezes realmente fora do lugar. As discussões com as crianças fazem repensar tudo; é muito emocionante e reconfortante ver que o livro existe em carne e osso aos olhos desses leitores. Em geral, volto exausta das oficinas, mas muito reconfortada.

Os encontros com estudantes também me permitem repensar o trabalho. Eles me obrigam a analisar as coisas, a me questionar e tentar responder, algo que me permite trabalhar melhor depois. Tento aplicar os conselhos que eu dou aos mais jovens, quando volto ao meu atelier. Mas, na verdade não tenho tanta experiência assim.

crianças Rebecca


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Como você se sente depois do sucesso que têm alcançado alguns de seus livros na França, Inglaterra e Espanha?

RD – É verdade que a Espanha é o país onde os meus livros tiveram maior sucesso depois da França. Não sei explicar, mas estou feliz. A Itália está muito receptiva também, a Europa em geral. Mas não é verdade que os ingleses conhecem bem o meu trabalho; o mercado de língua inglesa é muito fechado, muito; só fui editada nos EUA pela primeira vez este ano. Inacreditável!

Tento não dormir nos louros do sucesso, ainda que me de confiança e me permita encontrar as portas abertas dos editores e, portanto, viver confortavelmente do meu trabalho e poder escolher meus projetos. E isso não tem preço!

JS Que projetos gostaria de desenvolver no futuro?

RD – Terminei Alice, ufa! Saiu na França em novembro (2010) e na Espanha na primavera deste ano. A Bíblia, que estou fazendo agora, é um trabalho enorme, dezenas de ilustrações, o que me tomará provavelmente dois anos. Depois, vou ilustrar, pela primeira vez, uma novela para adultos, Seda, um texto de Alessandro Baricco. Estou muito contente com essa nova experiência.

Também estou trabalhando em um filme de animação com Thanh Le Tai-Marc, de onde nosso álbum Elvis é o ponto de partida. É um trabalho também de longo prazo. Depois, há milhares de coisas que poderia tentar: ilustrar uma história policial, fazer uma história em quadrinhos, iniciar um stop-motion (um curta foto a foto) etc, etc.

JS Merci beaucoup, Reb.

Tradução Dolores Prades

Nota

  • 1
    Entrevista publicada na revista Peonza, nº 97, junho de 2011.

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  • Javier Sobrino

    Nasceu em Astúrias, Espanha. Estudou magistério em Santander e começou a trabalhar em escolas públicas em 1984. Atualmente trabalha como professor do EF1. É escritor e pesquisador na área de literatura infantil e promoção da leitura. Foi agraciado com diversos prêmios, nacionais e internacionais.

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