Mudo de beleza

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Os livros sem palavras ultrapassam as fronteiras editoriais e suscitam uma crescente atenção crítica e pedagógica, muito graças a iniciativas internacionais.1“Silent book per Lampedusa”, Ibby Italia, é uma rica coleção internacional disponível no Lo scaffale d’arte del Palazzo delle Esposizioni a Roma, outra mostra bibliografica itinerante é o da Biblioteca che verrà, sull’isola. Disponível em Ibby Italia. Dois livros estão entre os cinco premiados do Bologna Ragazzi Award, em 20152M. Ramstein; M. Aregui. Prima dopo, Milano, L’Ippocampo, 2014 (premiado na versão original francesa); L. Boyd. Flashlight, San Francisco, Chronicle Book, 2014., e a estante da livraria vai se povoando de álbuns sem palavras pelas mãos de atentos editores italianos.

Chamamos esses livros também de silent books, desde que consideremos que não são, de forma alguma, “silent” (em inglês: quietos, ou mudos). É possível, claro, imaginar com eles que se está sentindo o fervilhar de vozes ou versos nas páginas cheias3Cfr. G. Mirandola. “Libri senza parole? Li voglio subito”, in Hamelin. A occhi aperti, Roma, Donzelli, 2012., a música hipnótica de uma risada selvagem ou de uma dança; os rugidos dos animais escondidos Nel Prato de Iela Mari4I. Mari. Nel prato, Milano, Babalibri, 2011.. Mesmo quando, às vezes, os diálogos entre as personagens são evocados com clareza, ou então, mais raramente, imitam gestos ou são desenhados em balões. Produzem-se, desta maneira, palavras e sons na voz dos leitores, disparados pelo estupor das imagens, que pedem cumplicidade de ambas as partes na construção e na confirmação de um sentido comum5Cfr. M. Terrusi. “L’orizzonte della pagina”, in Nei libri il mondo, Bologna, Giannino Stoppani, 2013; M. Terrusi; G. Grilli. “Lettori migranti e silent book: l’esperienza inclusiva nelle narrazioni visuali”, Encyclopaideia, XVIII, n. 38, p. 67-90, 2014; M. Negri. Lo spazio della pagina, l’esperienza del lettore: per una didattica della letteratura nella scuola primaria, Trento, Erickson, 2012.. Os leitores são surpreendidos pelo rigor narrativo, deliciam-se com o prazer criativo que as lacunosidades6Cfr. N. Gardini. Lacuna: saggio sul non detto, Torino, Einaudi, 2014. intrínsecas ao texto exigem, estimuladas pela criatividade envolvida no ato e na arte de ler, silenciosamente encorajados a atravessar a encruzilhada entre imaginação e expressão.

A mesma partitura do silent book, seu ritmo gráfico e compositivo, guia a respiração do leitor e é capaz de deixá-lo quieto e em suspense, sem fôlego, na espera de um desvelamento em forma de enigma, por exemplo, como no livro fundamental Mangia che ti mangio7I. Mari. Mangia che ti mangio, Milano, Babalibri, 2010. , de Iela Mari, ou em uma caça ao tesouro visual, como em Vicino Lontano8S. Borando. Vicino lontano, Reggio Emilia, Minibombo, 2013. ou Si vede non si vede9S. Borando. Si vede non si vede, Reggio Emilia, Minibombo, 2013. de Silvia Borando, ou na privilegiada visão impensada de um mundo secreto, em Chiuso per ferie10M. Celija. Chiuso per ferie, Milano, Topipittori, 2006. , um dos primeiros álbuns da nouvelle vague dos silent books italianos. O suspense se desmanchará talvez em uma exclamação de surpresa no final do livro ou, virada a página, com um prazer a ser reiterado muitas vezes em sucessivas releituras.


Mangia que te mangio

Se não é literalmente silencioso, o silent book é certamente elíptico e lacunoso, com uma reticência programática ao uso de palavras, caracteres sequenciais e brevidade, por vocação poética liminar11S. Lee. La trilogia del limite, Mantova, Corraini, 2012., até chegar ao exemplo extremo da ausência de figuras na experimentação formativa de Munari com os livros ilegíveis, no final dos anos 1940.

O leitor, poderíamos perguntar, fica quieto ou sonoramente surpreso frente ao Libro illeggibile?12B. Munari. Libro illeggibile Mn1, Mantova, Corraini, 2009.12 Quieto, aqui, poderia estar o autor, operator que recua para trás da imagem e ali permanece, contemplando o leitor que contempla, sem dizer-lhe palavra alguma, mas colocando-o em frente ao fato (visual) consumado? Também o silêncio, como condição interior privilegiada pela percepção do presente, é o objeto do conto, a condição estética proposta pelos autores-escultores às crianças, preferida por narrar a metamorfose, a circularidade da história e da natureza, os tropeços e os encontros, o pertencimento “cósmico”, temas tão recorrentes? L’alber13I. Mari. L’albero, Milano, Babalibri, 2007. , de Iela Mari, se move em um tempo longo e silencioso, convida a olhar e a ouvir; os belíssimos La casa sull’albero e L’isola14M. e R Tolman. La casa sull’albero, Cornaredo, Lemniscaat, 2010; degli stessi autori: L’isola, Cornaredo, Lemniscaat, 2012. são composições visuais construídas com estruturas musicais a partir da variação sobre o tema, em que as imagens possam evocar o bater de asas, os passos de animais, o farfalhar de um céu que se preenche de pássaros e cores, a persistência de pontos de partida literários como são a ilha e as casas na árvore.


Libri illegibile

Em relação aos dois mais corpulentos das estantes: A chegada, de Shaun Tan 15S. Tan. L’approdo, Roma, Elliott, 2008.e Fiume Lento, de Alessandro Sanna16A. Sanna. Fiume lento, Milano, Rizzoli, 2013., são livros imersivos, poéticos, que causam estranhamento, contos inefáveis que requerem uma leitura com os sentidos abertos a partir da exclusão da parte mais racional e de um mergulho na ambiguidade e na precisão das imagens, na condição existencial e estética do deslocamento.


A Chegada

Falar de silêncio ou som nos livros ilustrados é brincar com o prazer da sinestesia, divertir-se ao relacionar as percepções produzidas pela literatura desenhada. Ao aceitar o jogo, podemos dispor de um repertório mínimo sob o fio da sonoridade e do silêncio, de álbuns sem palavras, entre convite ao olhar e o convite ao ouvir. Como ouverture, vamos falar de Concerto per alberi17L. Devernay. Concerto per alberi, Milano, Terre di mezzo, 2013., em sua versão original intitulado Diapason (o ponto de referência na música para o acorde inicial: normalmente um Lá). Na quarta capa, o livro é definido como “uma sinfonia para os olhos”: os pentagramas como raízes e troncos, as árvores como instrumentos que o maestro, homenzinho pequeno em seu pedestal, libera do som imagens musicais aladas: o concerto é aberto com uma nota que voa em forma de pássaro. O voo em crescendo desloca, muda, reflete, inclina, multiplica sinais e formas na página. Com fortes ecos Escherianos, a ária musical é feita da composição e recomposição das formas: os pássaros saem das copas das árvores, os que vão estão preenchidos e os que ficam, vazios. O Concerto per alberi, talvez mais eficaz na estrutura original de Leporello, soa na forma, nos acúmulos, nas pausas harmônicas das imagens.


Bárbaro

Lê-se também sobre “harmonia” na quarta capa do primeiro dos álbuns em que Flora18M. Idle. Flora e il fenicottero, Roma, Gallucci, 2013; M. Idle. Flora e il pinguino, Roma, Gallucci, 2015. dança com o flamingo. Os movimentos dos dois personagens, a sintonia de seus gestos e o dueto gracioso de infância e natureza respondem a uma música ideal que é uma lacuna a cargo do leitor. A brevidade e a rapidez do álbum exigem leitores inteligentes, capazes de narrações solitárias e interiores. A aventura do pequeno Bárbaro 19R. Moriconi. Bárbaro, Companhia das Letrinhas, SP.brinca entre espaço e narração muda: é possível recuperar uma trilha sonora na experiência infantil de cada um de nós, mas só depois de termos desvelado pela primeira vez a brincadeira final da ficção: sobre as primeiras, com as informações contidas no fundo branco das páginas, pode-se no máximo imaginar o rugido, a explosão da chama, os golpes dos ciclopes, o estalar das asas monstruosas, assistindo ao desfile de inimigos do impávido cavaleiro, enquanto um único ritmo é dado pelo movimento vertical do pequeno Bárbaro. À epifania do conto, que inverte tudo (nunca vi um leitor se calar neste ponto!), corresponde também uma precisa sensação sonora: como se o volume aumentasse e, no entorno, os sinos e a música do carrossel voltassem a ser reconhecíveis repentinamente, como acontece depois de um sonho com os olhos abertos (ou a leitura solitária, em inglês precisamente o silent reading), atividade que aturde momentaneamente os sons que temos à nossa volta e nos sequestra.

O silent book é projetado para ser lido mais vezes, é um laboratório secreto de fabulações interiores, exercício formador de cumplicidade entre a lacuna do mundo e o complemento do leitor, mostra às crianças que a literatura e a arte da leitura são experiências ativas de exploração do espaço entre o dito e o não dito, o visível e o invisível20Cfr. N. Gardini. Lacuna, cit., talvez por isso os silent para crianças falem de fronteiras e transformações, distâncias e encontros, do muito pequeno e do muito grande, temas poéticos clássicos? Em muitos livros, o diálogo com a natureza ocorre sem palavras, através do instinto e do corpo; através da dança, do brincar e da meditação silenciosa, atividades capazes de romper a rotina patológica da comunicação verbal.

Os silent books convidam à contemplação e à evocação dos sons da natureza, e os temas do voo e do mundo marinho são recorrentes nos textos: a voz humana se cala, a audição é dirigida a todo o resto. Da voz da tempestade, do vento e da onda, nas obras-primas de Anne Brouillard, àquelas do silêncio da água e do sonho em La piscina 21J. H. Lee. La piscina, Roma, Orecchio acerbo, 2015.ao diálogo entre a menina e o mar em A onda 22S. Lee. A onda, Companhia das Letrinhas, 2017.de Suzy Lee. A relação entre mar, infância e conto silencioso é central naquilo que podemos considerar o manifesto poético do gênero, ainda inexplicavelmente sem um editor italiano: Flotsam de David Wiesner[mfnn]D. Wiesner. Flotsam, Clarion Books, 2006.[/mfn]. Neste célebre álbum (vencedor da Caldecott Medal em 2007) o autor define as relações que existem entre muitos elementos pedagogicamente relevantes: primeiramente, a capacidade de um olhar que interrogue o real com acolhedora curiosidade. O protagonista leva consigo na praia: uma lupa, um binóculo, um microscópio; o livro se abre com seu olho em primeiríssimo plano, observando um caranguejo-eremita: é para ele que o mar entrega a câmera submarina. Como segundo elemento, está o estupor que anima o conto e a ação23“O estupor, de fato, não espera a palavra falada, a formulação explícita (sonora ou gráfica, ou qualquer outra) da palavra, por ser palavra…. O silêncio que acompanha sempre o estupor… não é de forma alguma a expressão de um mutismo, mas sim o lugar de um clamor, a condição de um contínuo a ser interpelado e de um responder, de um ser chamado a responder… O tempo do estupor não é o instante mudo da chama, suspensão idolátrica diante daquilo que me aterroriza, mas é um tempo de palavra no qual a tal chama me-anima-e-eu-a-animo como questão” (S. Petrosino. Lo stupore, Novara, Interlinea, 2012, p. 107)., e então aparecem elementos que pertencem ao imaginário coletivo, o diálogo entre culturas, o papel de cada um na comunidade narradora, a possibilidade de sentido que tudo isso abre, a fotografia e a arte visual com discurso cultural global.


Flotsam

Usando as categorias de Roland Barthes24R. Barthes. La camera chiara: nota sulla fotografia, Torino, Einaudi, 2003., poderíamos dizer que este conto metatextual acontece sob o olhar operator, spectator e spectrum, que coincide e troca de lugar. As crianças da história são todas sujeito e objeto de fotografias, autores e protagonistas de um conto sem fim que envolve o leitor. O mundo submarino, lugar silencioso, metamórfico, do reino dos mortos, criativo, jamais conhecido, lugar de peixes, de naufrágios e sereias, coloca em comunicação, através das imagens contadas por uma câmera fotográfica submarina, crianças de tempos e lugares distantes ocupados com a mesma pesquisa, é a metáfora da própria literatura.

Em Flotsam, o silêncio é, como a solidão, condição necessária à concentração e à visão das ligações poéticas entre as coisas. É um espaço interior protegido, onde é possível produzir o estupor que anima e encoraja a relação: um tempo “diapasão” originário e criativo, capaz de gerar aventuras pedagógicas e diálogos infinitos. É “mudo de beleza” mas sabe também falar, como neste ensaio de Eduardo Galeano, A função da arte, que faz referência ao mar: “Diego não conhecia o mar. Seu pai, Santiago Kovadloff, levou-o para descobri-lo. Foram ao sul. O mar estava além das altas dunas, à espera. Quando pai e filho, depois de um longo caminho, alcançaram finalmente aqueles picos de areia, o mar explodiu diante de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando enfim conseguiu falar, tremendo, balbuciando, pediu ao seu pai: “Me ajude a olhar!”.25E. H. Galeano. Il libro degli abbracci, Milano, Bompiani, 1996.

Tradução Roberto Almeida

Notas

  • 1
    “Silent book per Lampedusa”, Ibby Italia, é uma rica coleção internacional disponível no Lo scaffale d’arte del Palazzo delle Esposizioni a Roma, outra mostra bibliografica itinerante é o da Biblioteca che verrà, sull’isola. Disponível em Ibby Italia.
  • 2
    M. Ramstein; M. Aregui. Prima dopo, Milano, L’Ippocampo, 2014 (premiado na versão original francesa); L. Boyd. Flashlight, San Francisco, Chronicle Book, 2014.
  • 3
    Cfr. G. Mirandola. “Libri senza parole? Li voglio subito”, in Hamelin. A occhi aperti, Roma, Donzelli, 2012.
  • 4
    I. Mari. Nel prato, Milano, Babalibri, 2011.
  • 5
    Cfr. M. Terrusi. “L’orizzonte della pagina”, in Nei libri il mondo, Bologna, Giannino Stoppani, 2013; M. Terrusi; G. Grilli. “Lettori migranti e silent book: l’esperienza inclusiva nelle narrazioni visuali”, Encyclopaideia, XVIII, n. 38, p. 67-90, 2014; M. Negri. Lo spazio della pagina, l’esperienza del lettore: per una didattica della letteratura nella scuola primaria, Trento, Erickson, 2012.
  • 6
    Cfr. N. Gardini. Lacuna: saggio sul non detto, Torino, Einaudi, 2014.
  • 7
    I. Mari. Mangia che ti mangio, Milano, Babalibri, 2010.
  • 8
    S. Borando. Vicino lontano, Reggio Emilia, Minibombo, 2013.
  • 9
    S. Borando. Si vede non si vede, Reggio Emilia, Minibombo, 2013.
  • 10
    M. Celija. Chiuso per ferie, Milano, Topipittori, 2006.
  • 11
    S. Lee. La trilogia del limite, Mantova, Corraini, 2012.
  • 12
    B. Munari. Libro illeggibile Mn1, Mantova, Corraini, 2009.12 Quieto, aqui, poderia estar o autor, operator que recua para trás da imagem e ali permanece, contemplando o leitor que contempla, sem dizer-lhe palavra alguma, mas colocando-o em frente ao fato (visual) consumado? Também o silêncio, como condição interior privilegiada pela percepção do presente, é o objeto do conto, a condição estética proposta pelos autores-escultores às crianças, preferida por narrar a metamorfose, a circularidade da história e da natureza, os tropeços e os encontros, o pertencimento “cósmico”, temas tão recorrentes? L’alber13I. Mari. L’albero, Milano, Babalibri, 2007.
  • 13
  • 14
    M. e R Tolman. La casa sull’albero, Cornaredo, Lemniscaat, 2010; degli stessi autori: L’isola, Cornaredo, Lemniscaat, 2012.
  • 15
    S. Tan. L’approdo, Roma, Elliott, 2008.
  • 16
    A. Sanna. Fiume lento, Milano, Rizzoli, 2013.
  • 17
    L. Devernay. Concerto per alberi, Milano, Terre di mezzo, 2013.
  • 18
    M. Idle. Flora e il fenicottero, Roma, Gallucci, 2013; M. Idle. Flora e il pinguino, Roma, Gallucci, 2015.
  • 19
    R. Moriconi. Bárbaro, Companhia das Letrinhas, SP.
  • 20
    Cfr. N. Gardini. Lacuna, cit.
  • 21
    J. H. Lee. La piscina, Roma, Orecchio acerbo, 2015.
  • 22
    S. Lee. A onda, Companhia das Letrinhas, 2017.
  • 23
    “O estupor, de fato, não espera a palavra falada, a formulação explícita (sonora ou gráfica, ou qualquer outra) da palavra, por ser palavra…. O silêncio que acompanha sempre o estupor… não é de forma alguma a expressão de um mutismo, mas sim o lugar de um clamor, a condição de um contínuo a ser interpelado e de um responder, de um ser chamado a responder… O tempo do estupor não é o instante mudo da chama, suspensão idolátrica diante daquilo que me aterroriza, mas é um tempo de palavra no qual a tal chama me-anima-e-eu-a-animo como questão” (S. Petrosino. Lo stupore, Novara, Interlinea, 2012, p. 107).
  • 24
    R. Barthes. La camera chiara: nota sulla fotografia, Torino, Einaudi, 2003.
  • 25
    E. H. Galeano. Il libro degli abbracci, Milano, Bompiani, 1996.

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  • Marcella Terrusi

    Marcella Terrusi é italiana. É especialista e pesquisadora na área de livros para crianças. É membro da seção italiana do IBBY. Um dos temas de sua pesquisa são os “livros sem palavras”. É professora na Escola de Design da Comunicação (ISIA) em Urbino, membro da Giannino Stoppani Cooperativa Culturale onde colabora como curadora no catálogo da exposição organizado pela Accademia Drosselmeier. É autora de monografias sobre livros ilustrados, foi membro do júri em Bratislava 2009; há mais de 10 anos colabora com a Feira de Bolonha como mestre de cerimônias e professora no Café de ilustradores.

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