Um mundo aberto – Cultura e primeira infância

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O trabalho com crianças pequenas exige que as pessoas responsáveis aprendam a ler crianças, uma das tarefas mais complexas que podemos imaginar. Ler entre linhas, ler entre gestos, ler marcas do tempo ou ler sem palavras”.

Esta afirmação, feita por María Emilia López já nos últimos trechos de seu livro revela grande parte das ideias abordadas em suas reflexões ao longo da pequena obra. Pequena por fora, mas grande por dentro, o que nos remete à máxima sobre as próprias crianças, suas competências, seu mundo imaginativo e criador.

Para ler a criança é preciso pensar a cultura na e para a primeira infância a partir da articulação entre os diferentes modos de produção cultural assim como o conhecimento das especificidades das próprias crianças pequenas. Lembra-nos que a subjetividade é constituída desde as primeiras experiências de linguagem e de vínculos afetivos. Lembra também que os bebes falam com o corpo e, portanto precisam ter experiências interativas com as diferentes produções culturais. Para nos ajudar nessa tarefa de ler a criança, a autora traz alguns elementos para entender a dimensão política da cultura, como a importância da cultura de cuidado e da disponibilidade em lidar com a diversidade e as novas formas de família e criança midiático- tecnológica.

Como enriquecer a experiência sem abolir os sentidos? Como as crianças vivem e se relacionam com as diferentes expressões artísticas? Essas são algumas das inúmeras perguntas feitas ao longo do texto, e, inspirada em diversos autores do campo da historia, semiologia, filosofia, artes plásticas e literatura, busca responder qual o lugar da arte na primeira infância. A arte, lugar de experiência, possibilita a ressignificação das percepções, nem sempre possíveis de serem representadas pela linguagem. Para relacionar-se com a arte, é preciso vivenciar três momentos importantes e alimentar as operações que dão origem à experiência: a observação (inclui a investigação as crianças sobre os objetos); apreciação (é subjetivo e pessoal, acrescenta a sensibilidade, as preferencias e emoções) e a expressão (fazer as próprias manifestações lúdicas). Essas operações devem fazer parte das propostas daqueles que trabalham com crianças, favorecendo sempre a diversidade e a profundidade estética.

Valorizando as políticas publicas que facilitem os encontros e entendendo os centros infantis como espaços geradores da vida cultural das crianças e das famílias, Maria Emilia abre no final de suas reflexões um campo para se pensar na Arte e na Comunidade, convidando o leitor pensar nos diferentes vínculos e articulações entre os diversos responsáveis por uma política cultural pública para a primeira infância. Nomeia os diferentes atores da educação e cultura (bibliotecários, gestores culturais, educadores, puericulturistas, oficineiros, etc.) de mediadores, ressaltando a continuidade do acompanhamento na sua formação como fator chave na possibilidade de transformação de uma prática.

Fica então o convite para quem acredita na força da experiência ampla e profunda da leitura e narração, da música, das artes plásticas e visuais, da dança e a expressão corporal, da conquista do movimento e da expressão.


Autor:
María Emilia López
Editora: Selo Emília
ISBN: 978-8554019006
Idioma: Português
Formato: 17.8 x 12.8 x 1 cm
Nº de páginas: 128 p.
Ano de publicação: 2018

Onde encontrar:

WMF Martins Fontes

Movimento Literário


Imagem: Ilustração de Gusti.


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  • Maria Teresa Venceslau de Carvalho

    Psicóloga, Psicanalista, Mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (2001). Trabalhou em creches e outras instituições de E.I. em diferentes funções: diretora, coordenadora pedagógica, psicóloga. Atualmente, além de atendimento em clínica particular trabalha com formação de professores e gestores de Educação Infantil. É professora do curso de especialização em Educação Infantil do Instituto Superior de Educação Vera Cruz e Formadora/Consultora do Instituto Avisa lá. Co-autora do livro: “Interações: Ser Professor de Bebês, cuidar, educar e brincar, uma única ação” – Editora Blucher, 2012. Membro da diretoria da ABEBE – Associação Brasileira de Estudos sobre o Bebê, gestão 2015 /2018.

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