Uma amizade impossível

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IreneMonteiro@revistaemilia.com.br Monteiro Irene

Título: Amos e Bóris
Autor: William Steig
Editora: Companhia das Letras

Amos e Bóris me convidaram para embarcar na sutileza de sua amizade desde o encontro com a capa. O jogo de cores entre o título/autor e o sol/baleia é inteligente e a pintura leve com um traço bem delineado do rato e da baleia juntos e serenos nos instiga a descobrir quem deles é o Amos e quem é o Bóris.

Pela ilustração já presumi que o livro era antigo e fui até a última página para ler sobre o autor. Ali encontramos o que queríamos saber, nada mais nada menos. Descobrimos quem é o William Steig1Nasceu em Nova York, em 1907. Teve seus desenhos publicados na revista The New Yorker e ganhou muitos prêmios de ilustração com seus livros infantis, tendo sido indicado duas vezes ao Hans Christian Andersen. Em 1990 publicou Shrek, que foi adaptado para o cinema em 2001., o que fez e como foi importante em sua época. O livro é de 1971. Volto, então, para o início e redescubro a obra, agora com um olhar mais precioso.

De maneira sutil e aventureira, Steig narra, em um diálogo constante entre imagem e texto, a amizade dos dois mamíferos que só é possível devido aos acidentes e encontros ocasionais que a vida lhes dá. Sem subestimar o leitor, muito pelo contrário, instigando-o cientificamente com as leis da biologia e eventos da natureza as personagens vão nos contando da amizade impossível que criam. Amizade subversiva e perigosa, mas que ao mesmo tempo deve, ao final, ser submetida às leis da natureza.

Um não pode viver no mar, nem o outro em terra firme. Este é um fim que vamos entendendo ser a dura verdade e que dele não podemos escapar. Na penúltima página, quando os dois amigos se despedem com lágrimas nos olhos, nos vemos também doídos por dentro. Não conseguindo sustentar a emoção da separação buscamos, logo, a próxima página, mas ali só há o alento da constatação de desamparo humano. Encontramos o ratinho sozinho na página em branco, olhando longe para o vazio; um vazio de saudade, que se faz tão presente que chega a conversar com a tristeza que eu também sinto.

Nota

  • 1
    Nasceu em Nova York, em 1907. Teve seus desenhos publicados na revista The New Yorker e ganhou muitos prêmios de ilustração com seus livros infantis, tendo sido indicado duas vezes ao Hans Christian Andersen. Em 1990 publicou Shrek, que foi adaptado para o cinema em 2001.

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  • Irene Monteiro

    Irene Monteiro é psicóloga, educadora da primeira infância e bailarina da Dançarilhos em Cia. É coautora do livro O tear da vida: reflexões e vivências psicoterapêuticas (Summus) e integra o corpo editorial da Revista Emília. Dedica-se ao estudo e trabalho com as duas pontas da vida - infância e velhice - a partir do corpo, das memórias - sociais e pessoais - e das histórias literárias, realizando ações como aulas de dança e acompanhamentos individuais.

    IreneMonteiro@revistaemilia.com.br Monteiro Irene

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